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Gestão compartilhada com a comunidade remanescente do quilombo João Surá

segunda-feira, outubro 25th, 2010

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Breve relato sobre o trabalho de campo realizado em Outubro de 2010.

Por Gilberto Manea e Angélica Varejão.

Dedicamos quase todo este mês de Outubro a superar os desafios de comunicação e articulação para que a comunidade quilombola de João Surá participasse conosco da gestão do capital disponível ao projeto dentro do Programa Universidade Sem Fronteiras/Fundação Araucária (Convênio UFPR/Soylocoporti). Trata-se de um exercício de gestão compartilhada. Tínhamos como missão definir com a comunidade de João Surá o que de fato é prioridade na aquisição de equipamentos/implementos para a produção de farinha (beneficiamento da mandioca).

Após dias de contatos por email e telefone, eu Gilberto Manea e Angélica Varejão, alocamos recursos para o nosso deslocamento na companhia do Sr. Antonio Carlos, principal liderança quilombola no Vale do Ribeira, até o município de  Itaoca, São Paulo.

Nossa missão neste momento era visitar um recomendado mestre serralheiro que construía artesanalmente em suas oficina, os equipamentos básicos para o beneficiamento da farinha: trituradores, prensa hidráulica, forno rotativo.

Fomos além do município de Adrianópolis, seguindo pela velha estrada de terra dos quilombos até a balsa que nos conduziria ao outro lado do rio. Lá chegando, em Itaoca, já no lado paulista do Ribeira, nos encontramos com Mauro Quevedo de Lima que nos mostrou alguns equipamentos ainda em construção. Avaliamos as condições materiais, valores e possibilidades de aquisição destes produtos.

Depois, seguimos com Mauro até a comunidade remanescente de quilombo Porto Velho, ainda em lado paulista. Nosso principal objetivo era conhecer as máquinas desenvolvidas por Mauro Quevedo. Lá, nos encontramos com um afirmativo líder da resistência quilombola que nos guiou até a casa de beneficiamento e nos mostrou os equipamentos, adquiridos com apoio e recursos da ação católica Cáritas.

Além da satisfação em conhecermos uma liderança quilombola no Vale do Ribeira-São Paulo, tivemos a alegria e o encanto de vislumbrar por instantes, um pequeno pássaro de penugem carmesim (seria um pintassilgo?). Com a intensa plantação de pinus no Vale do Ribeira, as aves estão desaparecendo gradativamente.

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Retornamos pelo mesmo caminho da balsa, atravessamos o rio e seguimos rumo à comunidade de João Surá. Chegamos somente com o cair da noite. Depois dos abraços e cumprimentos, pedimos uma reunião extraordinária e iniciamos um debate coletivo sobre as necessidades da comunidade para a implantação da casa de farinha.

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A comunidade chegou à conclusão de que uma parte do recurso financeiro deveria ser aplicado na aquisição de um micro-trator que pudesse transportar a matéria prima(ramas de mandioca) até o local da casa de beneficiamento (antiga Escolinha do Poço Grande), distante cerca de 4km da sede e outros das roças (cerca 15 km por estrada de terra e trilhas se nos guiarmos pela distância da sede à roça do Candinho, no Sertão). Outra prioridade para a produção da farinha é o triturador e a prensa. Já o forno poderá ser construído em regime de mutirão seguindo o modo tradicional e agregando por isso mesmo maior valor econômico. Diante do que foi decidido em gestão compartilhada com a comunidade, iniciamos as cotações junto às empresas especializadas. Esperemos anunciar em breve, a notícia da implantação da casa de farinha.

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Romaria da Terra no Vale do Ribeira marca o lançamento da Campanha Nacional do Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra

quarta-feira, agosto 25th, 2010

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Com o tema “Quilombo: Resistência de um Povo, Território de Vida”, ocorreu no último dia 15 de Setembro, em Adrianópolis, Vale do Ribeira, a 25a. Romaria da Terra do Paraná.

Um ato político e simbólico mediado pela fé e pela fraternidade entre diferentes credos na luta solidária pela terra.

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As comunidades quilombolas do Vale do Ribeira aguardam com ansiedade os resultados do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID/INCRA) para que lhes sejam concedidos o direito de propriedade e permanência em seus territórios ancestralmente habitados, garantidos pelo artigo 68 do ADTs da Constituição Federal.

Diversidade religiosa  reunida de mãos dadas na Romaria da Terra do Paraná  no Vale do Ribeira

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A comunidade quilombola de João Surá, foi a principal anfitriã do evento no Vale do Ribeira.

Nhá Dita Freitas, liderança religiosa em João Surá, cumprimentada pelas intregrantes da Romaria

Nhá Dita Freitas, liderança religiosa em João Surá, cumprimentada pelas integrantes da Romaria

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Seu João Baitaca, ao centro de chapéu, olhando a cruz simbólica recém-erguida

Seu João Baitaca, ao centro de chapéu, olhando a cruz simbólica recém-erguida

Seu Sebastião Zabé, entre os romeiros...

Seu Sebastião Zabé, entre os romeiros...

... a pequena quilombola Adriana, no colo da mãe...

... a pequena quilombola Adriana, no colo da mãe...

... professor Aparecido, com violão, quilombola de João Surá...

... professor Aparecido, com violão, quilombola de João Surá...

Quilombo: Resistência de um povo, território de vida.

Quilombo: Resistência de um povo, território de vida.

O evento foi promovido pela Comissão Pastoral da Terra do Paraná, com a participação de comunidades remanescentes de quilombos do Paraná e integrantes da Rede Puxirão dos Povos Tradicionais.

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Durante a organização da Romaria, a equipe do projeto de Desenvolvimento Sustentável em João Surá atuou com comunicação compartilhada em solidariedade política às famílias da comunidade de João Surá e outras famílias quilombolas do Paraná, que distribuiram pães caseiros e outros alimentos, como o mel e a mandioca cozida, produtos da terra, entre os participantes da Romaria.

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Dona Joana de Andrade Pereira, memória viva do quilombo de João Surá

Dona Joana de Andrade Pereira, memória viva do quilombo de João Surá

A religiosidade popular praticada nestas comunidades expressa-se em ritos festivos de compartilhamento de alimentos.

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É erguido um pequeno altar para São Gonçalo...

É erguido um pequeno altar para São Gonçalo...

... na celebração o rito de oferenda de alimentos às crianças... a tradicional "mesada dos anjos".

... na celebração da oferenda de alimentos às crianças... a tradicional "mesada dos anjos".

A fraternidade e a comunhão são princípios que regem, ao mesmo tempo, produção orgânica e familiar de alimentos e a religiosidade nos quilombos.

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Por isso a “mesada dos Anjos”, prática ritual tradicional nos quilombos (que consiste em consagrar e distribuir os primeiros alimentos às crianças) foi um dos momentos mais preciosos da Romaria da Terra do Paraná, junto da Folia de São Gonçalo.

“Repartir a terra, é multiplicar o pão”, foi o lema dos participantes da Romaria.

A Romaria da Terra dá início no Paraná à Campanha Nacional do Plebiscito Popular pelo Limite da Propriedade da Terra, que irá ocorrer entre os dias 1 a 7 de Setembro.

"Repartir a terra é multiplicar o pão" - grito popular da Romaria da Terra do Paraná

"Repartir a terra é multiplicar o pão" - grito popular da Romaria da Terra do Paraná

Ato político e ato de fé, congregando com fraternidade diferentes credos religiosos na luta pacífica pela terra, como um Direito à Vida.

Romeiros carregam um cruz...

Romeiros carregam um cruz...

... que será erguida em símbolo da luta cristã pela terra...

... que será erguida em símbolo da luta cristã pela terra...

... no Vale do Ribeira

... no Vale do Ribeira

A praça de Adrianópolis, tomada pela fé do povo...

A praça de Adrianópolis, tomada pela fé do povo...

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Acompanhe as notícias aqui http://limitedaterraparana.blog.br/

Carta de agradecimento e relato da comunidade sobre o curso oferecido em parceria com o SENAR

terça-feira, junho 15th, 2010

Relato produzido pela comunidade sobre o Curso de Beneficiamento de Alimentos – Mandioca – que ocorreu em janeiro deste ano, em parceria com o SENAR-PR no Colégio Newton Freire Maia.

“O dia começou com a apresentação de todos. Já no início percebemos que a instrutuora Dioméia era bastante extrovertida e muito cuidadosa, principalmente com as orientações de higiene. Ela disse que o nosso corpo é um grande produtor de bactérias. E que isso é uma condição natural da vida. Todas as coisas que fazemos podem ser contaminadas por bactérias até no ar que respiramos. Mas há bactérias nocivas como as que estragam os alimentos e há bactérias que são boas – como, por exemplo, os bichinhos que ajudam na fabricação dos derivados de leite.

Iniciamos as atividades fazendo farinha de mandioca, ralando em ralador revestido com plástico que facilta na hora de lavar, mantendo sempre limpos os instrumentos. Após isso retiramos o polvilho ou a goma num pano de prato muito limpo pras outras atividades futuras,  enquanto uns descascavam a mandioca para fazermos “sonhos” da mesma massa aproveitando bastante, outros fizeram palitos e chips de mandioca – que fica que nem batata frita – mas tudo não deu muito certo porque a mandioca era amarela e não era igual a de João Surá – lá a gente cultiva mais a “vassourinha” – e sendo de má qualidade atrapalhou muito o andamento do curso porque teve que ficar cozinhando muito tempo e depois fazia muita liga.

Mas o que mais nos chamou atenção foi o biscoito de polvilho – esse biscoito de vento que toda gente conhece – feito de polvilho azêdo que parecia antes tão difícil mas não era. Após isso fechamos o dia e fomos descansar.

No dia seguinte, 20 de Janeiro, começamos com o preparo da carne de costela pra fazer a “vaca atolada” que é bem diferente da maneira que nós fazemos em João Surá: tudo cortado em cubinhos do mesmo tamanho, desde a carne até a mandioca. Depois disso preparamos uma deliciosa torta com recheio de cenoura, repolho, tomate e carne moída. Além do ‘nhoque especial de mandioca’.

O bolo que fizemos também foi feito muito rápido e ficou uma maravilha. E no biscoito de polvilho não acreditávamos muito, mas deu tudo certo e pra fechar com chave de ouro fizemos a tapioca que todo mundo gostou e aprovou muito.

Mas, segundo pesquisa de opinião que fizemos entre nós, a farinha de mandioca crua não foi aprovada. Na nossa opinião unânime, a farinha mais gostosa é como a gente faz lá em João Surá, que tem que ser torrada.

No curso sobre derivados da mandioca aprendemos muitas coisas novas que nós da comunidade ainda não conhecíamos. A mandioca tem mil e uma utilidades e produz pratos deliciosos cheios de muitoas proteínas. Aliás, um dos cuidados no modo de fazer os pratos é preservar as proteínas que são úteis para o corpo humano.

E por falar em corpo humano, a instrutora do Senar passou várias formas de lavar as mãos corretamente e também como se comportar dentro de uma cozinha – seja ela industrial ou a nossa própria cozinha.  Ensinou que não só no uso da mandioca mas em todos os produtos que se compra e vende, até mesmo nos supermercados, é necessário olharmos a data de validade de cada um dos produtos, pois um produto vencido pode ser um hospedeiro de bactérias.

A comunidade agradece a todos que nos apoiaram, principalmente ao Senar que promove a partilha para as pessoas do campo que necessitam desse conhecimento e também a toda equipe do Colégio Newton Freire Maia que nos receberam em sua cozinha e nos hospederam no alojamento com muito cuidado e gentileza. Muito obrigado.”